quarta-feira, 9 de julho de 2014

EVA Beyond - O Cenário

APRESENTAÇÃO

Assim como muitos moleques, eu comecei a ver animes com Cavaleiros do Zodíaco (ok, não necessariamente com eles, mas com certeza aí foi o grande marco de um processo maior). Com o tempo, mais obras foram chegando ao Brasil e mesmo nosso contato com trabalhos que ainda não haviam sequer sido anunciados aqui foi sendo facilitado (primeiro com os fansubs, depois com os encontros e convenções e finalmente com a internet) a ponto, inclusive, de ficarmos muito íntimos com os conceitos, símbolos e estruturas narrativas deles.

Nessa invasão "nipônica", um anime em especial chamou minha atenção. Ele primeiro surgiu do nada, uma pequena imagem em uma revista de games americana. Uma menina de cabelo curto sustentando um tipo de globo no ar, toda em tom vermelho. A verdade é que aquela imagem me fisgou. Parecia que um novo conceito de mundo animado surgia ali (e eu já havia tido contato com Akira) e ecoava um nome "Evangelion".

Essa imagem, num tamanho bem menor, foi a primeira vez que vi NGE.
Conheçam mais sobre a obra no blog evangelionbr.worpress.com.
Corri como louco tentando encontrar essa obra de alguma forma. Em tempo! Ela estava acabando de aportar no Brasil por meio dos já falados fansubs e uma cópia, ainda em fita de videocassete (na verdade, duas), era replicada entre amigos. Fiz umas 3 maratonas em diferentes finais de semana da série completa + movies e... Neon Genesis Evangelion blew my mind.

Em momento oportuno, comprei a série em DVD (o qual assisto pelo menos anualmente) e fui conseguindo mais material pela internet. Enchi os olhos d'água enquanto meu coração palpitava descompassado de emoção quando comprei a primeira edição brasileira do mangá (ainda publicado pela Conrad - obrigado, Cassius Medauar) e fiquei aliviado quando a JBC continuou a publicar (no formato originalmente publicado no Brasil e no dela próprio).

Um Pouco de História

De uma maneira indireta, Neon Genesis Evangelion também foi meu primeiro contato com RPG, pois no meu vício de ter cada vez mais material e mais informações sobre a obra, saí comprando várias revistas que estampavam personagens ou qualquer coisa relacionada à série na capa, e uma das primeiras delas foi a edição 62 da finada Dragão Brasil, que trazia estatísticas de personagens, robôs e shitôs (os amalucados "Anjos" da série) para 3D&T e Gurps, numa matéria escrita por Paladino (quem lembra?) - apesar de nem ter lido essas estatísticas. Anos depois, já na revista Dragon Slayer nº 01, Paladino e Saladino (Polidinho e Polidinho...) adaptaram EVA para o AÇÃO!!! (em termos simplistas, um D20 Modern traduzido).
EVA na Dragão Brasil. Edição 62. Ainda
tenho (mas essa não é a minha).

Apesar dessas adaptações brazucas, fazendo uma pesquisa pela rede, pude perceber que há poucos (ou quase nenhum) RPG sobre Evangelion. Oficialmente, há uma mistura de "livro de arte" + "card games" de duas edições (ou algo do tipo) chamados NGE RPG: The NERV White Paper e NGE RPG: The Descent of ANGEL, além de um licenciamento de EVA para a canadense (e falida) BESM (Big Eyes, Small Mouth), tendo gerado, inclusive (ou teoricamente), 2 suplementos (aparentemente falsos, pois não constam na lista deles que a Wikipedia oferece, apesar de aparecer na lista da Amazon)!

Extra-oficialmente, Adeptus Evangelion é o RPG mais expressivo sobre o anime: um cenário desenvolvido por fãs tomando como base o Dark Heresy, e que está sempre sendo atualizado (na versão 2.5 eles já ensaiam aprimoramentos para 3.0) e possui muito material online, como dois ricos livros-base, fichas e por aí vai. Outra possibilidade de role playing com NGE é o tal "mail-RPG", mas aí já foge um pouco do meu conhecimento e mesmo desejo de jogo.

Time Stop

Acredito que a razão de quase nenhuma versão oficial de EVA existir (ou vingar) é pelo sentido de "momentum" da série. Diferente de um Akira, em que, apesar do cenário pós-apocalíptico, existe um background antes e depois dos acontecimentos do mangá/filme que podem ser ampliados e explorados pra praticamente todos os gêneros jogáveis, NGE indica claramente que a história real acontece com o aparecimento de Shinji e termina com a invasão à Central da NERV e envolve unicamente aqueles personagens e mais nada. Essa "imaleabilidade" do cenário é um grande calo RPGístico, pois é preciso ter certa liberdade para sugerir coisas novas e acrescentar a história contada pelos jogadores e pelo mestre à narrativa base do universo jogado. Em NGE, panos de fundo podem sugerir um interessante cenário de investigação durante a criação das unidades Evas (e mesmo enquanto acontece a série), mas oferece poucas opções de ação robô-gigantesca envolvendo personagens (e robôs) novos e, para os mais apegados à cronologia (e um real fã de EVA é muito apegado aos cânones do seriado), isso é quase matar toda a graça da série.

Versões rebuilds e o tempo que segue e recomeça. Aos mais interessados, The Nerv Archives é um bom lugar para se
aprofundar na obra (em inglês).

Outra coisa relevante na série EVA - e isso se estende em seus principais produtos realmente oficiais: a série de Hideaki Anno, o mangá de Yoshiyuki Sadamoto e os longas rebuilds de Anno - é o fato de ela apresentar um magnífico aprofundamento de personagens num conjunto inominável de camadas simbólicas (principalmente do cristianismo) e que extrapolam e criticam, inclusive, a indústria que ele (ironicamente) revolucionou. Arremessar isso numa campanha é um desafio, tanto para os mestres quanto para os jogadores, e não ter esses elementos numa aventura que tem NGE como cenário é perder um pouco do gosto do que EVA significa.

Por isso que venho propor algo novo... (ou nem tanto assim)




Ouroboros e o Conceito do Eterno Retorno

Segundo o articulista do Comics Alliance, Eva Otaku é
um dos melhores lugares para obter informações
sobre EVA.
De forma explícita ou não, um dos temas que circundam Evangelion são o de brevidade/eternidade. Seja na série pra TV - com seus dois finais distópicos e interligados - ou nos rebuilds - que inclusive foram anunciados como sequência/reboot de sua linha cronológica "oficial" -, a noção base é que a realidade abandona sua simplista/humana linearidade e segue um eterno recomeço, destruindo-se e recomeçando, num ciclo infinito de erros e acertos e onde um mero detalhe muda toda a estrutura, mas não evita o fim (ou os fins). Prova disso, por sinal, é a presença de Tabris/Kaworo, o qual muitas vezes fala como se já tivesse vivido e presenciado aqueles acontecimentos de diferentes formas e possui alguma forma de direcionar aquela realidade à outra.

Mitologicamente, esse conceito não é novo e está intrinsecamente ligado a praticamente todas as formas de cultura humanas. Ele é conhecido pela palavra grega ouroboros, "o dragão/serpente que come a própria cauda", mas ele está ligado a tantas civilizações do que se pode imaginar: pré-colombianas, africanas, nórdicas, orientais... praticamente todos carregavam algum signo que comportava esse simbolismo. E EVA possui muito dessa complexidade... as várias versões, as diferentes linhas de continuidade que ao mesmo tempo são novas linhas de continuidade... todas elas tentando tirar Shinji de seu sofrimento existencial pessoal, mas que acabam sempre afundando-o mais naquilo que ele quer fugir... "Metasci-ficamente" falando é nesse ponto onde um cenário de RPG pode realmente existir, dessa vez, saltando a linha Anno de interpretar a série e seguindo uma lógica própria que pode se utilizar de novos (e, quem sabe, complexos) símbolos e oferecer uma aventura grandiosa, com tudo novo, mas ainda sendo o mesmo NGE que conhecemos, mas bem mais além.

NEON GENESIS EVANGELION BEYOND - O CENÁRIO


O ano é 2035. 20 anos se passaram desde a invasão ao Geofront e suposto fim do mundo. A maior parte dos continentes foi tomada por um líquido vermelho-enferrujado chamado de Éter e a situação das áreas não tomadas é de incerteza e caos social. As possibilidades de sobrevivência e habitação são incertas nas poucas "ilhas" longe das partes não tomadas. Além disso, a Terra, movida de seu eixo, vive um período de adequação ambiental, com florestas tropicais crescendo aceleradamente em áreas desertas e regiões de florestas folheadas adaptando-se à tundra, além de um clima incerto marcado por chuvas, furacões e geadas sem qualquer indicação prévia.

Em meio a essa situação, Prometheus, uma organização particular que se utiliza de antigos tesouros arqueológicos, provinda dos remanescentes da UNO, empenha-se em tentar reconstruir o pouco que sobrou. Esse cenário é o pior possível, grupos de ajuda humanitária tentam trabalhar junto a Prometheus, mas sofrem ataques de revoltosos grupos políticos, sociais e militares, todos clamando por direitos inexistentes em terras sem lei e com fronteiras confusas. É como se o mundo inteiro tivesse se tornado um pequeno vilarejo da África, onde o povo tenta sobreviver aos confusos avanços de confusos insurgentes.

E tudo está prestes a piorar.

Despontando no horizonte do venenoso líquido do Éter, em uma segunda do mês de outubro, uma figura humanoide maior do que a lembrança de prédios, em menos de 2h invade e destrói uma área de mais de 2.000km da costa sul da África seguindo em linha reta ao norte. A guerrilheira imprensa batiza-o de Titã.

O mundo não está preparado. As poucas forças militares esqueceram como era uma guerra dessa magnitude. As pessoas estão tão calejadas e desesperançadas que sequer pensam em fugir, somente abraçar seus entes queridos e esperar pelo fim, decretado, por sua vez, 20 anos antes. Não há mais coração ou força ou desejo ou armas de/para se lutar.

Quando, do nada, um segundo monstro surge.

Aterrorizador em sua forma, poderoso em luta, o gigantesco robô subjuga seu adversário. A batalha não é fácil. Não é limpa. Ela não poupa prédios, pessoas ou ecossistemas. Quando chega ao fim, ao invés de um respirar aliviado, ela traz uma onda de dúvidas: quem são esses? Como chegaram aqui? E o que esperar do vencedor? Ele é uma nova ameaça? No entanto, quando do gigantesco humanoide mecânico (de nome Perseu) sai uma garota japonesa, uma brisa de esperança sopra para todos os sobreviventes do cataclismo: se nossos protetores não são humanos, ao menos possuem a cara de um.



Explicando...

Essa é uma premissa exemplo. Os mais atentos vão perceber que me utilizei do conjunto simbólico da mitologia greco-romana pra criar esse cenário. Pra mim, nada mais lógico. NGE se utiliza do conjunto cristão de mitos e simbologias (com uma pitada Crowleyana, diga-se de passagem), assim, numa virada "tempo-espaço", como sugerida anteriormente, um novo grupo toma o lugar. Estou usando a greco-romana por ser mais facilmente encontrada, mas acredito que um bom mestre pode criar suas aventuras tendo como base os nórdicos, hindus, africaners, muçulmanos e por aí vai. A ideia é ter uma base de signos que deem sustentação à aventura assim como aconteceu em EVA. Neste exemplo, por sinal, criarei alguns Eventos pra ajudar em aventuras rápidas, trazendo novos personagens, novos Evas - ou Heros, como pretendo chamá-los - e dar uma campanha que seja rica em símbolos, divertida e que se aproxime do legado Anno.

Longe de mim querer alcançar o mesmo grau de riqueza de EVA. Genialidade aos gênios. Aqui quero somente oferecer uma história que simule o mundo criado em NGE sem deturpar o "tronco base" da obra, que os Vigias incrementem tudo da forma que desejarem. Uma indicação aos mais ousados e com grupos mais experientes é o livro O Poder do Mito, de Joseph Campbell, ele poderá dar todas as informações científicas sobre essas interpretações e conexões simbólicas que tanto falo. Aos mais xiitas, deixei algumas versões de datafiles dos principais personagens. Levei em conta o mangá e os dois rebuilds.

Third Children Datafile

Second Children Datafile

First Children Datafile
Enfim, por hoje é só. Logo trarei mais informações e dados de NGE Beyond, fica valendo como adaptação "oficial" de EVA aqui no blog.

Comentem e divulguem entre os amigos.

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